Wednesday, September 19, 2007

MARIA CALLAS, 30 ANOS APÓS A SUA MORTE











Brava Callas! Brava Maria!

"Se você ama a música a ponto de servi-la humildemente, o sucesso acontecerá automaticamente” – Maria Callas

Uma voz cortante, poderosa, capaz de levar o ouvinte a abismos de paixão ou de dor lancinante. Maria Callas é a emoção superlativa. Uma diva única, quase força da natureza. Quem viu seus olhos expressivos, a visceral interpretação de suas violetas, rosinas, turandots, lucias e normas jamais voltará a se conformar somente com uma bela voz de soprano. A indomável Callas, geniosa, intempestiva, era regida pelos sentimentos. Em sua pele, nenhum personagem de ópera era ficcional. O sangue fervia, a dramaticidade explodia, puro êxtase. Butterfly era um lamento nunca ouvido, Magdalena a voz da emoção, e Violeta morria de olhos abertos, encarando uma platéia atônita e chocada.

Ela encantou Pasolini, Zeffirelli e Visconti, emudeceu poderosos e seduziu milhões. Era a Grande Callas, La Divina Callas, sobrenome que nem era seu e que criou fazendo um anagrama com o nome do maior templo da ópera: o teatro Scala, de Milão. Paradoxalmente, essa mulher que fazia de seu canto a expressão máxima de todos os sentimentos humanos, foi desprezada pelo único homem que amou. A crueldade do armador grego Aristóteles Onassis pode ser medida por uma frase proferida quando a voz de Maria já declinava, em que comparava sua poderosa voz a “um apito que você traz na garganta”.

Boa parte da atração que Maria Callas exerce sobre o grande público tem raízes fincadas exatamente em sua biografia, permeada por espetaculares feitos e por escândalos alimentados pela mídia. Veja-se o caso do milionário Onassis. No auge da fama, Maria sofreu tremendo assédio por parte do armador grego, que era casado com Tina. Presentes luxuosos e toda sorte de mimos foram usados por Onassis para convencê-la. Ela capitulou e mergulhou em uma relação atormentada, onde foi submetida a humilhações, como o desprezo de Christina, a filha de Onassis, ou o momento em que teve de depor em um tribunal americano sobre sua participação na separação do casal Onassis. Seu divórcio de Giovanni Battista Meneghini foi explorado à exaustão pelos jornais, suas explosões de fúria ficaram registradas pelos fotógrafos, sua intimidade foi devassada.

O mundo acompanhou a grã sacerdotisa do canto quando ela descobriu amor e sexo aos 36 anos e então desejou deixar de ser deusa e assumir uma vida mais pacata e caseira: “Só desejo um marido, filhos e um cachorro”, declarou.

Aristo - a forma carinhosa com que Maria tratava Onassis na intimidade – coroou sua passagem pela vida de Callas trocando-a por Jacqueline Kennedy quando esta enviuvou do presidente americano. Repetiu com Jacqueline o assédio que havia feito a Maria. O trauma emocional de Callas foi proporcional ao impacto causado pelo novo casal Onassis

Outra façanha de Maria refere-se à silhueta. Da soprano gordinha, em poucos meses ela se transformou em uma sílfide e abriu um debate acalorado sobre o impacto do emagrecimento sobre sua voz. Esse episódio é apontado como uma das maiores provas de sua quase legendária persistência, uma força de vontade assombrosa que a atraía como ímã para todos os desafios, tanto na carreira artística como na vida íntima.

Mas, além da curiosidade que despertava e dos escândalos que protagonizava, Maria era uma artista fulgurante. Nada em sua biografia se compara ao poder encantatório de sua voz. A gravação da sua mais famosa apresentação da Norma, de Vincenzo Bellini (1801-1835), com a orquestra do Scala, regida pelo maestro Tullio Serafin, é um ícone da história da ópera pela emoção e dramaticidade que emergem da voz de Maria. Norma foi o papel que Callas mais representou: 92 vezes. A ópera toda – mas principalmente a ária Casta Diva – consolidaram sua reputação e sua fama. Curiosamente, a seu amor pelo canto deve-se o resgate de Norma, que habitava um certo limbo, bem como algumas óperas de Rossini, a quem emprestou um sopro de graça e leveza.

Inspirada pela condução segura de Serafin, Maria fez mais: subverteu as regras até então aceitas no canto lírico e ousou desconstruir a exagerada especialização que se instalara. Os sopranos, em sua época, estavam subdivididos em dramático, mezzo, coloratura, ligeiro e spinto. Ninguém ousava romper a barreira. Maria fez isso, e logo na estréia em Verona, em 1947, aos 24 anos. Contrariando tudo o que até se acreditava, cantou na mesma semana Tristão e Isolda, de Richard Wagner, Turandot, de Giaccomo Puccini, e voltou a Wagner no papel de Brunnhilde. Um verdadeiro feito o de cantar – e simultaneamente - o repertório de vários tipos de soprano.

Décadas depois, em uma das famosas master classes que Callas deu na Juilliard School of Music em Nova York, em 1971-72, ela sentenciou: "Hoje só se fala em baixo profundo, baixo cantante, barítono-baixo ou soprano ligeiro, soprano spinto, soprano disso, soprano daquilo. A cantora é soprano, e basta! Um instrumentista faz os baixos e agudos. Do mesmo modo, um cantor deve cantar em todas as tessituras".

Sua interpretação da Tosca, de Giacomo Puccini (1858-1924), também entrou para a história do bel-canto, principalmente na apresentação que fez no Scala sob a regência de Victor de Sabata. Floria Tosca foi representada 39 vezes por Callas, mas nada se compara com a majestosa apresentação de 1953, em que Maria contracena com dois outros cantores respeitáveis: o tenor Di Stefano e o baixo Tito Gobbi.

Curiosamente, a Tosca ocupou especial lugar em sua vida. Maria - nascida em Manhattan, filha de gregos - estreou na Ópera Nacional de Atenas em 1942 exatamente com a Tosca. E foi com ela que encerrou sua carreira em 1965, em Londres.

Maria morreu sozinha, em seu apartamento de Paris, em 16 de setembro de 1977, vítima de um infarto. Enquanto o enterro percorria a rua Georges Bizet, centenas de parisienses que choravam saudaram a passagem do esquife com a saudação que emocionava Maria na saída dos teatros: “Brava Callas!, Brava Maria!”. Na primavera de 1979, suas cinzas foram lançadas no Mar Egeu.

Em : “Arte Livre”


Maria Callas - L'amour Est Un Oiseau Rebelle
Georges Bizet

L'amour est un Oiseau Rebelle - Havanaise.
(Bizet).
 
L'amour est un oiseau rebelle
Que nul ne peut apprivoiser,
Et c'est bien en vain qu'on l'appelle,
S'il lui convient de refuser.
Rien n'y fait, menace ou prière,
L'un parle bien, l'autre se tait;
Et c'est l'autre que je préfère:
Il n'a rien dit, mais il me plaît.
 
L'amour est enfant de bohème,
Il n'a jamais connu de loi:
Si tu ne m'aimes pas, je t'aime;
Si je t'aime, prends garde à toi!
 
L'oiseau que tu croyais surprendre
Battit de l'aile et s'envola ?
L'amour est loin, tu peux l'attendre;
Tu ne l'attends plus, il est là!


Trinta anos após a sua morte, a genialidade musical de Maria Callas continua a ser intensamente recordada. A data é assinalada um pouco por toda a Europa. O La Scala de Milão organiza duas exposições sobre a diva de origem grega. "Callas é um mito e o nosso teatro tem um extraordinário conjunto de memórias da cantora. Por isso o La Scala decidiu homenageá-la nos trinta anos da sua morte", afirmou Stephane Lissner, responsável da instituição.

Uma das exposições apresenta os trajes que a cantora envergou no emblemático teatro italiano. A outra mostra as fotografias da "prima dona assoluta" nos bastidores. A soprano morreu a 16 de Setembro de 1977, em Paris, aos 53 anos.
Maria Callas passou por Lisboa uma única vez para cantar "La Traviata" no palco do São Carlos em 1958.

Em “Euronews”


15 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Vem , vem voar nas " Asas De Fogo " ...

Um delicado beijo .

10:55 AM  
Blogger António Inglês said...

Maria Callas

Mais uma diva, mais uma
As referências que o Mundo vai preservando...
Um beijinho
José Gonçalves

5:01 PM  
Blogger António Inglês said...

BOM FIM DE SEMANA

GOSTAS-TE DA AF?
FOI PENA NÃO TER SIDO COMO SE PREVIA.
UMA BEIJOCA.
José Gonçalves

6:13 AM  
Blogger aramis said...

Meu querido amigo Jose Gonçalves,
Não tive na AF o tempo todo, mas deu para ver que a temperatura do poder continua "morna"...
Beijinhos e bom fim de semana

8:33 AM  
Blogger Isamar said...

Um post fantástico, amiga! Comovente até às lágrimas.A divina Callas subm,issa por amor. Um amor que a não mereceu.
Beijinhos. Bom Domingo!

9:23 AM  
Blogger Isamar said...

queria dizer:A divina Callas, submissa, por amor.
Beijinhos

9:37 AM  
Blogger Luna said...

Uma diva
sem duvida
E foi muito difícil a gravação de um disco
Ela não queria e dizia que alterava a voz
Pensar que poderíamos ficar sem recordações auditivas
Beijos
luna

1:28 PM  
Blogger Maria Faia said...

Olá Amiga,

Linda homenagem esta que faz à "Diva" Maria Callas. Gostei muito.
Foi uma Mulher que viveu e cantou com paixão. E, aquela voz timbrada, sonora e ao mesmo tempo doce, não esquece facilmente.
As fotos que escolheu são fantásticas...
Uma semana feliz para si.

Beijo Amigo
Maria Faia

3:26 PM  
Blogger António Inglês said...

Amigona

Deixei-te um doce à espera em minha casa.
Quando puderes passa por lá.
Boa semana. A gente vê-se por aí.
Beijinhos
José Gonçalves

1:18 AM  
Anonymous Anonymous said...

A VOZ DE OURO
(para Maria Callas)

De vez em quando,
o acaso, o destino,
escolhe alguém para ser o maior,
único naquilo que faz...

a jovem Maria,
iluminada pelos deuses,
teceu ponto a ponto,
uma lenda de nosso tempo.

Uma lutadora capaz de vencer
com as cartas que a vida lhe dera.
Uma criatura frágil, presa de uma febril
agitação, dores, temores e amor hostil.

O oásis da infância de Maria foi a música,
que a fazia esquecer suas tristezas
e suas falhas reais e imaginárias.
Desde cedo, a música representou para ela,
uma razão de ser e de existir.

Sua cabeça estava cheia de árias, trincados,
escalas, volatas, glissandos e cadências,
todos os ornamentos do bel canto.
Olhando através das grossas lentes de seus óculos,
Maria não podia ver que um dia seria conhecida
como La Divina, a Prima Donna Assoluta,
a Voz de Ouro do século.

Há pessoas que escrevem sua biografia,
deixando a marca de sua passagem por esta vida.
Sua firme determinação era seu escudo,
porém sua maior arma era sua crença
inabalável em seu valor artístico;
nos poderes misteriosos de sua voz,
talvez uma percepção intuitiva de sua grandeza.

Maria seguiu olhando para o futuro,
esperando o clarão do relâmpago.
E o clarão surgiu, mergulhando-a
numa espécie de névoa, num sonho,
vivendo e revivendo numa roda-viva,
várias heroínas no palco:

Aída, Armida, Carmen, Fiorilla, Gilda,
Kundry, La Gioconda, Leonora, Lucia,
Medea, Norma, Tosca, Turandot, Violetta ...

sua vida foi um misto de tragédia e contos de fadas,
tão dramática e apaixonante como acontece
na mitologia grega... contudo, o mesmo amor,
que a fez desabrochar como mulher,
a secou, a murchou, a abandonou.
E mesmo em sua solidão,
o mundo estava a seu lado.

Porém em seu imenso desespero,
em sua terrível resignação,
não conseguiu perceber e gritar
por socorro, e seu olhar dia a dia,
perdeu-se no nada, como se atrás
de seus olhos não existisse ninguém.

Em setembro, numa manhã parisiense,
sentiu uma dor aguda no lado esquerdo
e caiu morta... suas cinzas foram levadas
para a Grécia, e lançadas ao mar Egeu,
o mar que ela tanto amava e onde ela continua viva,
e como todo grande espírito, para sempre iluminada.

Regina Rousseau

5:26 PM  
Anonymous Anonymous said...

A VOZ DE OURO
(para Maria Callas)

De vez em quando,
o acaso, o destino,
escolhe alguém para ser o maior,
único naquilo que faz...

a jovem Maria,
iluminada pelos deuses,
teceu ponto a ponto,
uma lenda de nosso tempo.

Uma lutadora capaz de vencer
com as cartas que a vida lhe dera.
Uma criatura frágil, presa de uma febril
agitação, dores, temores e amor hostil.

O oásis da infância de Maria foi a música,
que a fazia esquecer suas tristezas
e suas falhas reais e imaginárias.
Desde cedo, a música representou para ela,
uma razão de ser e de existir.

Sua cabeça estava cheia de árias, trincados,
escalas, volatas, glissandos e cadências,
todos os ornamentos do bel canto.
Olhando através das grossas lentes de seus óculos,
Maria não podia ver que um dia seria conhecida
como La Divina, a Prima Donna Assoluta,
a Voz de Ouro do século.

Há pessoas que escrevem sua biografia,
deixando a marca de sua passagem por esta vida.
Sua firme determinação era seu escudo,
porém sua maior arma era sua crença
inabalável em seu valor artístico;
nos poderes misteriosos de sua voz,
talvez uma percepção intuitiva de sua grandeza.

Maria seguiu olhando para o futuro,
esperando o clarão do relâmpago.
E o clarão surgiu, mergulhando-a
numa espécie de névoa, num sonho,
vivendo e revivendo numa roda-viva,
várias heroínas no palco:

Aída, Armida, Carmen, Fiorilla, Gilda,
Kundry, La Gioconda, Leonora, Lucia,
Medea, Norma, Tosca, Turandot, Violetta ...

sua vida foi um misto de tragédia e contos de fadas,
tão dramática e apaixonante como acontece
na mitologia grega... contudo, o mesmo amor,
que a fez desabrochar como mulher,
a secou, a murchou, a abandonou.
E mesmo em sua solidão,
o mundo estava a seu lado.

Porém em seu imenso desespero,
em sua terrível resignação,
não conseguiu perceber e gritar
por socorro, e seu olhar dia a dia,
perdeu-se no nada, como se atrás
de seus olhos não existisse ninguém.

Em setembro, numa manhã parisiense,
sentiu uma dor aguda no lado esquerdo
e caiu morta... suas cinzas foram levadas
para a Grécia, e lançadas ao mar Egeu,
o mar que ela tanto amava e onde ela continua viva,
e como todo grande espírito, para sempre iluminada.

Regina Rousseau

5:26 PM  
Anonymous Anonymous said...

A VOZ DE OURO
(para Maria Callas)

De vez em quando,
o acaso, o destino,
escolhe alguém para ser o maior,
único naquilo que faz...

a jovem Maria,
iluminada pelos deuses,
teceu ponto a ponto,
uma lenda de nosso tempo.

Uma lutadora capaz de vencer
com as cartas que a vida lhe dera.
Uma criatura frágil, presa de uma febril
agitação, dores, temores e amor hostil.

O oásis da infância de Maria foi a música,
que a fazia esquecer suas tristezas
e suas falhas reais e imaginárias.
Desde cedo, a música representou para ela,
uma razão de ser e de existir.

Sua cabeça estava cheia de árias, trincados,
escalas, volatas, glissandos e cadências,
todos os ornamentos do bel canto.
Olhando através das grossas lentes de seus óculos,
Maria não podia ver que um dia seria conhecida
como La Divina, a Prima Donna Assoluta,
a Voz de Ouro do século.

Há pessoas que escrevem sua biografia,
deixando a marca de sua passagem por esta vida.
Sua firme determinação era seu escudo,
porém sua maior arma era sua crença
inabalável em seu valor artístico;
nos poderes misteriosos de sua voz,
talvez uma percepção intuitiva de sua grandeza.

Maria seguiu olhando para o futuro,
esperando o clarão do relâmpago.
E o clarão surgiu, mergulhando-a
numa espécie de névoa, num sonho,
vivendo e revivendo numa roda-viva,
várias heroínas no palco:

Aída, Armida, Carmen, Fiorilla, Gilda,
Kundry, La Gioconda, Leonora, Lucia,
Medea, Norma, Tosca, Turandot, Violetta ...

sua vida foi um misto de tragédia e contos de fadas,
tão dramática e apaixonante como acontece
na mitologia grega... contudo, o mesmo amor,
que a fez desabrochar como mulher,
a secou, a murchou, a abandonou.
E mesmo em sua solidão,
o mundo estava a seu lado.

Porém em seu imenso desespero,
em sua terrível resignação,
não conseguiu perceber e gritar
por socorro, e seu olhar dia a dia,
perdeu-se no nada, como se atrás
de seus olhos não existisse ninguém.

Em setembro, numa manhã parisiense,
sentiu uma dor aguda no lado esquerdo
e caiu morta... suas cinzas foram levadas
para a Grécia, e lançadas ao mar Egeu,
o mar que ela tanto amava e onde ela continua viva,
e como todo grande espírito, para sempre iluminada.

Regina Rousseau

5:26 PM  
Anonymous Anonymous said...

A VOZ DE OURO
(para Maria Callas)

De vez em quando,
o acaso, o destino,
escolhe alguém para ser o maior,
único naquilo que faz...

a jovem Maria,
iluminada pelos deuses,
teceu ponto a ponto,
uma lenda de nosso tempo.

Uma lutadora capaz de vencer
com as cartas que a vida lhe dera.
Uma criatura frágil, presa de uma febril
agitação, dores, temores e amor hostil.

O oásis da infância de Maria foi a música,
que a fazia esquecer suas tristezas
e suas falhas reais e imaginárias.
Desde cedo, a música representou para ela,
uma razão de ser e de existir.

Sua cabeça estava cheia de árias, trincados,
escalas, volatas, glissandos e cadências,
todos os ornamentos do bel canto.
Olhando através das grossas lentes de seus óculos,
Maria não podia ver que um dia seria conhecida
como La Divina, a Prima Donna Assoluta,
a Voz de Ouro do século.

Há pessoas que escrevem sua biografia,
deixando a marca de sua passagem por esta vida.
Sua firme determinação era seu escudo,
porém sua maior arma era sua crença
inabalável em seu valor artístico;
nos poderes misteriosos de sua voz,
talvez uma percepção intuitiva de sua grandeza.

Maria seguiu olhando para o futuro,
esperando o clarão do relâmpago.
E o clarão surgiu, mergulhando-a
numa espécie de névoa, num sonho,
vivendo e revivendo numa roda-viva,
várias heroínas no palco:

Aída, Armida, Carmen, Fiorilla, Gilda,
Kundry, La Gioconda, Leonora, Lucia,
Medea, Norma, Tosca, Turandot, Violetta ...

sua vida foi um misto de tragédia e contos de fadas,
tão dramática e apaixonante como acontece
na mitologia grega... contudo, o mesmo amor,
que a fez desabrochar como mulher,
a secou, a murchou, a abandonou.
E mesmo em sua solidão,
o mundo estava a seu lado.

Porém em seu imenso desespero,
em sua terrível resignação,
não conseguiu perceber e gritar
por socorro, e seu olhar dia a dia,
perdeu-se no nada, como se atrás
de seus olhos não existisse ninguém.

Em setembro, numa manhã parisiense,
sentiu uma dor aguda no lado esquerdo
e caiu morta... suas cinzas foram levadas
para a Grécia, e lançadas ao mar Egeu,
o mar que ela tanto amava e onde ela continua viva,
e como todo grande espírito, para sempre iluminada.

Regina Rousseau

5:27 PM  
Anonymous Anonymous said...

A VOZ DE OURO
(para Maria Callas)

De vez em quando,
o acaso, o destino,
escolhe alguém para ser o maior,
único naquilo que faz...

a jovem Maria,
iluminada pelos deuses,
teceu ponto a ponto,
uma lenda de nosso tempo.

Uma lutadora capaz de vencer
com as cartas que a vida lhe dera.
Uma criatura frágil, presa de uma febril
agitação, dores, temores e amor hostil.

O oásis da infância de Maria foi a música,
que a fazia esquecer suas tristezas
e suas falhas reais e imaginárias.
Desde cedo, a música representou para ela,
uma razão de ser e de existir.

Sua cabeça estava cheia de árias, trincados,
escalas, volatas, glissandos e cadências,
todos os ornamentos do bel canto.
Olhando através das grossas lentes de seus óculos,
Maria não podia ver que um dia seria conhecida
como La Divina, a Prima Donna Assoluta,
a Voz de Ouro do século.

Há pessoas que escrevem sua biografia,
deixando a marca de sua passagem por esta vida.
Sua firme determinação era seu escudo,
porém sua maior arma era sua crença
inabalável em seu valor artístico;
nos poderes misteriosos de sua voz,
talvez uma percepção intuitiva de sua grandeza.

Maria seguiu olhando para o futuro,
esperando o clarão do relâmpago.
E o clarão surgiu, mergulhando-a
numa espécie de névoa, num sonho,
vivendo e revivendo numa roda-viva,
várias heroínas no palco:

Aída, Armida, Carmen, Fiorilla, Gilda,
Kundry, La Gioconda, Leonora, Lucia,
Medea, Norma, Tosca, Turandot, Violetta ...

sua vida foi um misto de tragédia e contos de fadas,
tão dramática e apaixonante como acontece
na mitologia grega... contudo, o mesmo amor,
que a fez desabrochar como mulher,
a secou, a murchou, a abandonou.
E mesmo em sua solidão,
o mundo estava a seu lado.

Porém em seu imenso desespero,
em sua terrível resignação,
não conseguiu perceber e gritar
por socorro, e seu olhar dia a dia,
perdeu-se no nada, como se atrás
de seus olhos não existisse ninguém.

Em setembro, numa manhã parisiense,
sentiu uma dor aguda no lado esquerdo
e caiu morta... suas cinzas foram levadas
para a Grécia, e lançadas ao mar Egeu,
o mar que ela tanto amava e onde ela continua viva,
e como todo grande espírito, para sempre iluminada.

Regina Rousseau

5:27 PM  
Anonymous Anonymous said...

A VOZ DE OURO
(para Maria Callas)

De vez em quando,
o acaso, o destino,
escolhe alguém para ser o maior,
único naquilo que faz...

a jovem Maria,
iluminada pelos deuses,
teceu ponto a ponto,
uma lenda de nosso tempo.

Uma lutadora capaz de vencer
com as cartas que a vida lhe dera.
Uma criatura frágil, presa de uma febril
agitação, dores, temores e amor hostil.

O oásis da infância de Maria foi a música,
que a fazia esquecer suas tristezas
e suas falhas reais e imaginárias.
Desde cedo, a música representou para ela,
uma razão de ser e de existir.

Sua cabeça estava cheia de árias, trincados,
escalas, volatas, glissandos e cadências,
todos os ornamentos do bel canto.
Olhando através das grossas lentes de seus óculos,
Maria não podia ver que um dia seria conhecida
como La Divina, a Prima Donna Assoluta,
a Voz de Ouro do século.

Há pessoas que escrevem sua biografia,
deixando a marca de sua passagem por esta vida.
Sua firme determinação era seu escudo,
porém sua maior arma era sua crença
inabalável em seu valor artístico;
nos poderes misteriosos de sua voz,
talvez uma percepção intuitiva de sua grandeza.

Maria seguiu olhando para o futuro,
esperando o clarão do relâmpago.
E o clarão surgiu, mergulhando-a
numa espécie de névoa, num sonho,
vivendo e revivendo numa roda-viva,
várias heroínas no palco:

Aída, Armida, Carmen, Fiorilla, Gilda,
Kundry, La Gioconda, Leonora, Lucia,
Medea, Norma, Tosca, Turandot, Violetta ...

sua vida foi um misto de tragédia e contos de fadas,
tão dramática e apaixonante como acontece
na mitologia grega... contudo, o mesmo amor,
que a fez desabrochar como mulher,
a secou, a murchou, a abandonou.
E mesmo em sua solidão,
o mundo estava a seu lado.

Porém em seu imenso desespero,
em sua terrível resignação,
não conseguiu perceber e gritar
por socorro, e seu olhar dia a dia,
perdeu-se no nada, como se atrás
de seus olhos não existisse ninguém.

Em setembro, numa manhã parisiense,
sentiu uma dor aguda no lado esquerdo
e caiu morta... suas cinzas foram levadas
para a Grécia, e lançadas ao mar Egeu,
o mar que ela tanto amava e onde ela continua viva,
e como todo grande espírito, para sempre iluminada.

Regina Rousseau

5:27 PM  

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